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Foto: Quisque |
Já é hora de comer de novo e estou animado com isso. Vou lá e devoro a comida chinesa que sobrou, sem tempo e nem paciência para o biscoitinho da sorte. Deixo a sorte dentro da massa, embrulhada, pronta para sorrir para outro. Reviro umas cartas antigas e recentes, e sinto saudades. Vou de um lado pro outro, ligo o rádio, a TV, desligo os dois. Ligo de novo, só o rádio: a TV vai ficar desligada pelo resto do mês.
Pego umas folhas, começo a desenhar. Não gosto. Amasso, jogo fora, e estou olhando para o papel branco novamente. Aquele branco que assusta, pois representa uma possibilidade tão infinita que eu nem sei por onde começar. Isso traduz o domingo, acho.
Começo a escrever um texto e paro. Começo a escrever outro sobre ter tentado escrever um texto e paro. Começo mais um novo texto sobre o texto que estava fazendo sobre o texto que não consegui fazer. Nada sai. Só este texto aqui saiu, e desse jeito que você está lendo, que pode ser bom ou ruim; ou apenas mais um texto.
O rádio toca uma trilha sonora triste, que me deixa melhor e pior, e não quero desligar. Faço café, sento, pego biscoitos sem ser da sorte e molho no preto. Eles ficam metade mais escuros e acho esse ritual bonito. Faço isso com mais cinco biscoitos e gosto quando meus dentes percebem a diferença entre a parte que ficou mole e molhada e a que está dura e seca.
Volto a escrever, paro. Não sorrio, fico sério. Sorrio por causa da música, depois volto a fechar a cara. Eu sou assim. O domingo me assusta, porque é um céu nublado e sem graça, cheio de possibilidades. Ele pode ser pintado, preenchido, animado, mas nunca sei por onde começar. Então eu fico começando e não terminando as coisas. Faço coisas sem terminar. Só termino de beber o café e de comer as bolachas. O resto fica inacabado. O texto, a arrumação, a alegria. Abandono tudo.
Não sei mais o que fazer, pois meu corpo pede momentos como esse, e chega uma hora que não posso mais privá-lo da ociosidade. Entretanto, nesse momento, eu me questiono tanto que passo a cansar meu corpo novamente. Logo, nunca estarei descansado e o papel em branco será sempre um céu nublado de domingo.
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