quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

A Tartaruguinha Que Não Foi Comprada

Foto original: DTC
 À tarde na loja de brinquedos, um pai e seu filho passaram pelo corredor dos bichinhos de pelúcia, pois era necessário atravessá-lo para chegar no corredor dos brinquedos mais radicais. O pequenino olhou para cima e viu algo que encantou seus olhos de seis anos de idade: uma tartaruguinha verde e sorridente, que o encarava, simpática.

 Ele parou, sorriu e esticou os braços para alcançar o bichinho, enquanto o pai, distraído, continuava andando.

-Vem, filhão. -ele chamou, quando percebeu que a pequena companhia não estava a seu lado na caminhada .

-Eu quero esse! -afirmou o menino, com a ponta dos dedos encostada no animalzinho.

 O pai recuou e foi até o filho, se perguntando o que é que teria despertado o interesse do menino naquele corredor de bichinhos fofos. O menino apontava a tartaruga para o pai, com um sorriso que não tinha os dois dentes da frente. O pai viu aquele bicho que sorria bobamente, a mão do filho, que não conseguia alcançar o presente desejado, pois estava numa prateleira alta demais para quem tinha seis anos, e suspirou.

-Filhão, isso aí é só uma tartaruga. -desmereceu ele.

 A criança, porém, não achava que aquela era só uma tartaruga. Simplesmente amou aquela singeleza do animal, que parecia muito amigável e, com certeza, seria um ótimo companheiro para suas aventuras, muito leal.

-Sim, eu quero a tatar-ruga. -disse o menino, com leve dificuldade para falar o nome de um animal tão especial.

-Você não prefere um monstrão? -sugeriu o pai, sem ajudar o menino a pegar o bichinho, que continuava na prateleira alta. -Um dinossauro? Bem melhor, né?

 O menino pensou um pouco, pois sabia que os adultos sempre faziam as melhores escolhas. Porém, ele não conseguia abandonar o olhar da tartaruguinha, que era a única da loja, solitária ao lado de alguns macacos e pandas da mesma coleção.

-Não. Eu quero ela! -repetiu o menino, com uma firmeza que nunca usara antes. -Trataruga! -reforçou.

 O pai revirou os olhos, pegou o bichinho, enquanto o menino sorria, olhou naqueles olhos amarelos da representação de animal marinho e depois para os olhos castanhos suplicantes do menino, na maior expectativa.

-Não. -disse o pai, colocando a tartaruguinha numa prateleira ainda mais alta que a anterior. -Vamos para o corredor dos monstros, vem!

 O menino não conseguia mais ver o bichinho depois de sua nova posição. Então, deu de ombros e seguiu o pai, que, minutos depois, comprou um tiranossauro rex com o qual o filho nunca brincou direito. Anos depois, o monstrão fez a alegria de outra criança, um primo de nove anos. Quanto a tartaruga, ficou anos e anos na prateleira alta, sem ser comprada, pois as crianças não a enxergavam de baixo.

4 comentários: