quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

O Coelho e a Corça

Eles eram felizes juntos. Gostavam explorar os mais íngremes terrenos, mas também rolavam carinhosamente um em cima do outro pelas campinas iluminadas e repletas de flores. Havia pedras, claro, mas eles pareciam ignorá-las e não se importar com a dor que sentiam ao esbarrarem suas patas de forma desengonçada nesses incômodos amigos cinzentos. Juntos não sentiam dor nem aquele vazio com o qual antes estavam tão acostumados. Eram compreendidos.
Depois de algumas horas de passeio e de esfregarem seus focinhos, eles se despediam e voltavam a andar sobre duas pernas, a caminho de seus respectivos vilarejos. O coelho, em sua toca, tentava beber bastante café, resolver suas pendências do emprego e, assim que sobrava tempo, gravar uma fita com algumas músicas que queria muito que a corça conhecesse. Ela, na mais alta montanha, dedicava-se a traduzir para o idioma do coelho uma história que queria muito que ele lesse, enquanto tomava seu costumeiro chá da tarde e resolvia as questões sociais dos seus.
Quando se reencontravam, os dois voltavam a ser de fato animais e os presentes eram empurrados por seus focinhos sobre a grama verdejante. Um compreendia melhor o outro a partir desses presentes e eles passavam a se admirar ainda mais. Até mesmo os dias de tempestade eram perfeitos para o estudo do que é sentir, ser e amar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário