quarta-feira, 5 de março de 2014

Coisas Complexas

Quando se nasce, leite e carinho bastam. E não poderia ser diferente, afinal, o que mais poderia ser importante? A proteção é tudo o que se conhece, ela está sempre contigo, e em momentos em que encontra-se mais solto, é puxado por ela novamente, o que é algo frustrante, mas que depois fará muita falta.

"Você é meu amor, você é meu amorzinho. Eu vou abraçar você, e assim vai dormir quentinho"

Vem os bolinhos de chuva, caça-palavras, as brincadeiras próprias para os dias em que falta luz no bairro todo. Depois, vai-se percebendo que esses momentos eram os melhores, juntamente com os dias nublados e chuvosos, que forçavam a criatividade a se restringir a quatro paredes reconfortantes. Aquele mundo é bonito, os dias de sol também são bonitos, passeios no parque são tão agradáveis quanto as luzes artificiais do shopping e do supermercado. Mas é por pouco tempo.

"Você está triste? Eu vou fazer um bolinho de chuva para te alegrar"

Mesmo assim, não se percebe quando, parece que aquela vida será infinita, e só se sonha com uma mudança repentina das coisas. Almeja-se a realização de tarefas complexas, e as lições de casa parecem já tediosas e os pais cada vez mais contraditórios em seus discursos. Quer se tocar e explorar a pele de outras pessoas. Quer-se desvencilhar de tudo aquilo que te protege, pois só se enxerga prisão à essa altura.

"Você tem vergonha que seus amigos te vejam andando comigo na rua?"

Depois que começa a carimbar papéis, digitar senhas e preencher campos vazios com a assinatura desenvolvida, vai-se percebendo que essas coisas são chatas, sem graça e, acima de tudo, uma grande perda de tempo. Ah, como era bom beber leite quente, comer bolinho de chuva, brincar de coisas no escuro e também ouvir aquelas broncas ridículas e amigáveis dos pais.
Foto original: Blog da Rafa / Efeito: Quisque

"Você precisa ter uma visão mais ampla, empreendedora!"

Tem uma hora que a incapacidade, a terrível dependência e o déficit de atenção começam a gritar bastante, mas acaba-se buscando formas de isolar esses sons tão inconvenientes. Mesmo porque, é hora de ganhar dinheiro e contribuir com a sociedade. Uma sociedade onde outros bebês nascem para sofrerem enquanto ganham dinheiro para "serem felizes" enquanto sofrem.

"Olha que bonitinho. Quando crescer vai fazer faculdade de Administração!"

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