quinta-feira, 20 de março de 2014

É Preciso Odiar

Desde os testamentos, talvez antes, foi instaurado o inquérito que penaliza a todos que decidirem odiar algo ou alguém. Claro que, assim como muitos versículos, isso é ilusório, já que pode-se odiar plenamente e com todo o fervor os círculos menores; ao passo que as grandes orgias não devem ser criticadas, pois é nelas que prevalece a lei do amor.
Pois bem, trazendo essa questão a público, é importante lembrar que querer o bem dos outros é importante, e coisa e tal, e não há ninguém que tenha o direito de dizer o contrário. Porém, há certas coisas que dizem muito sobre as pessoas, e que não deveriam ser suprimidas ou tratadas como patologias.
Quando você gosta de algo, mas gosta genuinamente, há uma tradução do seu ser naquilo, ou então você encontra algo que lhe falta. Gostar, achar legal, amar, ser fã, enfim, é encontrar uma extensão do seu corpo e espírito, e ficar feliz por ter encontrado. Claro que isso é gostar de fato, e não gostar só porque é conveniente ou porque vá render uma promoção futura.
Deve-se ressaltar, aliás, que gostar de algo é muito fácil. Ou melhor, dizer gostar de algo é a coisa mais fácil do mundo. Agora odiar. Ah, odiar. Isso sim requer talento! Nada melhor do que odiar alguém que faz seus batimentos cardíacos se acelerarem e seu rosto ficar vermelho de ira, e seus olhos lacrimejarem, em um momento que está longe de ser triste, mas sim de pura fúria.
O ódio, apesar de recriminado, é bastante utilizado contra as minorias, e ele quase sempre ganha. Não que isto seja o certo, porque, em essência, o ódio deve se desprender de clichês: deve ser autêntico, as pessoas devem odiar aquilo que realmente odeiam, e não aquilo que é fácil de odiar. Quem odeia as grandes orgias, por exemplo, é avesso ao rei e, assim, prova sua autenticidade e seu caráter de odiador verdadeiro, aquele que encontra até mesmo nesse sentimento uma extensão de seu corpo e, assim, se descobre e se compreende, e passa a lidar consigo definitivamente.
O rei é um homem de cavanhaque, com uma taça alcoólica na mão e um óculos escuro na outra, e nunca tira o roupão carmesim. Quem odeia o rei e diz isso abertamente, sem medo, é seu próprio rei, e, independente se os outros concordam ou não, merece respeito.

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