domingo, 23 de março de 2014

Sendo o Psicólogo

Às vezes ele gostaria de ter a oportunidade de ter seus dias ruins, seus dias de bode, dias nos quais seria o paciente e não o psicólogo... Não sabia se havia uma cobrança real, mas a sentia, vindo do silêncio e até das lágrimas dos outros... Basicamente o seu dia era composto por atividades e nessas atividades tinha colegas e esses colegas tinhas suas vidas conturbadas... Fazia bem a ele ouvi-los, debater, aconselhar, porque ele se colocava no lugar do outro e tentava entender o modo da pessoa ver e agir a respeito da situação apresentada... Humanos são tão complexos queque ele não os criticava, mas sim os apreciava... O fato é que, muitas vezes, ele não sentia retribuição... A verdade é que um psicólogo também precisa de psicólogo... A expectativa sobre ele era tanta que eu, muitas vezes, deixava de ser ele mesmo, esquecia seus problemas, suas particularidades, para resolver ou refletir sobre o caos alheio. A pergunta é: quando seria a vez dele de reclamar? Por que devia aguentar sempre tudo e ajudar os outros se, por vezes, não recebia auxílio ou espaço algum? Sempre via amigos sendo ríspidos com amigos e logo mais tudo fica bem: eles esqueciam o confronto, pois estão acostumados com humores instáveis... Mas quando era o próprio doutor quem não estava bem e mandava respostas um pouco atravessadas, a chuva de críticas estava na previsão do tempo... Isso significava que ele, por estar sempre tentando demonstrar estar bem, não tinha o direito de mostrar seu lado confuso e temeroso. Por que eu tinha que ser perfeito enquanto os outros erravam sem parar e eram tão facilmente perdoados? Por que nunca era ele o café-com-leite? Sintia-se como um ator... Estava quase sempre atuando, quase sempre deixando tudo passar... Por que não conseguia mais ter um corriqueiro piripaque humano? Ele busca a resposta até hoje.

Nenhum comentário:

Postar um comentário