A inocência tem uma vida curta. E sua morte nunca é natural: ela é sempre assassinada. Às vezes é um tiro, às vezes é pelo fogo. Às vezes afunda no mar, às vezes é esmagada pela colisão de dois automóveis. Em resumo, nunca vive uma vida inteira.
Se você é feito de neve, em algum momento vai derreter, e ter que se remodular com algo mais resistente. Ninguém te explica isso quando te jogam na cova da vida acadêmica, é claro, mas você acaba aprendendo sozinho. O problema é que, depois que de incineram, põe no forno e ainda usam a chama de até mesmo pequenas velas e fagulhas para te ferir, sua vontade é de usar argila para inciar-se de uma forma mais resistente.
Os sentimentos brutos e violentos, de animal, de defesa; as armas com as quais você se equipou para não
cair no mesmo erro de ser inocente depois parecem não mais te
protegerem, ou, pelo menos, acabam parecendo facas de dois gumes. Você
se arma, fica se esquivando e na defensiva, mas isso vai fazendo com que
você se machuque ainda mais.
É outro erro ser de argila, mais uma vez vai quebrar, derreter. Você não dura. Você passa pelo cimento também, você se joga num monte de cimento aos prantos e espera endurecer. E endurece. Mas por dentro você ainda tem argila e, por dentro da argila, ainda restam resquícios de neve.
Por que a perfeição está tão longe? Ser ivulnerável, imaterial. Isso resvolveria seus impasses, conseguiria trabalhar de forma perfeita, alinhada. Por que seu direito à vida tem que ser tão arranhado? Por que você acredita que as queimaduras são assim tão sérias?
Você vai ao soldador, vira um homem de metal. Mas não pode mudar o fato de que, por baixo do metal há cimento, por baixo do cimento há argila, por baixo da argila há neve. E então, pensando estar imune, te surpreendem, chegam de repente e te jogam mais uma vez no forno, e o metal é consumido pelas chamas. Ele resiste, é muito mais forte, de fato, mas acaba derretendo do mesmo jeito.
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