15h28
15h32
Separa dois copos de água, deixa ferver - o som é nulo, mas vai surgindo e se intensificando, é preparação. Pega o bule, o coador, monta tudo. Pega o filtro, dobra as laterais porque, reza a lenda, o café fica melhor assim. Adiciona o pó, bastante pó, com medo de fique fraco demais. O borbulhar anuncia que é a hora certa, vai até o fogão, desliga o fogo, leva a água, de um recipiente a outro, despeja. O som é legal, as formas que são surgindo na borra, que vira uma cratera vulcânica, estimula a percepção e a criatividade, o cheiro é incomparável. Aguarda a erupção acabar, a água e o pó virarem um só, o negro amargo cair, para, depois, ser um negro amargo doce despejado numa porcelana clara. O vapor sai, você degusta. É um ritual.
15h35
Você os vê ali, parados, quase que esquecidos. Olha só quando não tem mais o que fazer, mas uma hora vê. São caixas e mais caixas, são poucos, mas parecem muitos, guardam a saúde para si naqueles potes. Dá o horário, vai até lá e pega um de cada um, em horários alternados, claro, não tudo de uma vez. Enche um copo d'água, coloca o comprimido na boca, a água te ajuda a engolir. O som de engolir dá a sensação de missão cumprida, e de "ainda bem que não esqueci de tomar". É um ritual.
15h37
É hora de sair, vai ao banheiro, tira a roupa, toma banho, a água e o vapor quentes confortam, mas você não pode se deixar levar por essa sensação, pois tem horário. Xampu, sabonete, enxague. Festival de aromas e sensações que não pode te confortar demais, a água está acabando. Fecha a torneira, a toalha invade sua intimidade, o pente em seu couro cabeludo, o cotonete nos caminhos íntimos do seu ouvido, as roupas cobrindo quase tudo o que é você. Sai, depois de amarrar os sapatos, colocar o relógio, os bilhetes, os documentos, os cadernos, as canetas, tudo o que é resumido em uma mochila - desapega-se ou esquece das outras cosias que faltam - o guarda-chuva fica em casa nos momentos mais inoportunos. Fecha a porta e não pode esquecer-se de trancá-la. É um ritual.
15h42
Escreve um texto sobre tudo o que pensou entre 15h28 e 15h42. Desta vez foi num curto tempo, não deixou muito os pensamentos passarem para transcrever. Mas é inegável que isso é um ritual.
15h43
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