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Foto: Quisque |
Pode até haver força na fragilidade, mas ela é muito transparente para ser considerada força. Eu sou um copo de vidro. Posso até ferir os outros, mas, para isso, me desfaço em cacos. Eu investi em uma rigidez transparente demais: qualquer um consegue ver qual líquido me preenche no momento. Pude até aprender com isso, pude usar descansa copos e bebidas mais apimentadas e até mesmo alcoólicas para me fortalecer. Mas dispensei, sempre dispensei a força e abracei a ressaca sóbria. Poderia me entregar ao veneno doce e que faz girar, e evitar o veneno amargo e escuro que me preenche quando sou xícara. Mas ser de louça é refúgio, é se esconder. E no momento devo ser copo, devo me expor. Mas como expor algo forte, e ir contra mim? Devo expor algo mais leve, ou algo mais neutro? Devo ser transparente e deixar à mostra o leite, ou conhaque? Talvez eu deva cair no chão e ferir à todos, inclusive a mim, para exigir respeito. Ou talvez só para ter um efeito dramático e programado. Mas, mesmo assim, pisariam em mim. Pisariam em meus cacos, e, mesmo que se ferissem, eu é que sairia mais ferido desse jogo do copo. Às vezes dá saudade de ser um copo de plástico, às vezes eu quero mesmo é guardar água de coco, mas, na maioria das vezes, sou um copo com um líquido de cor estranha, que eu mesmo não identifico, pois sou daltônico. O ideal é ser água, isso sim; mas ser água é difícil.
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