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Foto: Quisque |
Isso assustou a todos, talvez porque ele nunca tinha demonstrado tantas coisas assim de uma vez só, e, logo, começaram a olhar de um modo diferente, com um pé atrás, com braços cruzados e com língua afiada. Ele, infelizmente, se importava demais com essas situações, mas começou a tentar fugir delas, ao invés de se ajoelhar perante os juízes e pedir um perdão que talvez nunca viesse, por mais que ele sangrasse.
Ele estava se encontrando apenas, pela primeira vez. O que poderia haver de errado nisso, já que é um direito de todo mundo? Era inédito pensar em si e esquecer um pouco de fazer as projeções do que os outros estavam pensando dele. Era o monstro do pequeno filhote. Nunca tivera a oportunidade de passar intensamente por uma fase, nunca se permitira. Quando bebê, tinha que ser maduro como uma criança maior, quando criança maior, tinha que ser disciplinado como um adolescente monge e quando adolescente, tinha que ser reservado como um adulto solitário.
Talvez ele não fosse mais tão pequeno, talvez fosse grande, mas não sabia a diferença, pois desde pequeno sempre se sentiu grande, ou sempre teve que ser grande, maduro, conciso, consciente até demais. E mesmo pequeno, tinha sempre causas grandes. Uma dessas causas era lutar pela felicidade e pelo sorriso dos outros, mesmo que, assim, deixasse de lado a sua felicidade e o seu sorriso podia ser superficial, ninguém iria ligar.
Os fracassos, as falhas, o mal feito, tudo isso pareceu confuso naquele momento, como se, quem sabe, nem tudo fosse culpa dele. Quem sabe ele não era o único monstro do mundo. Era um monstro, sim, mas não o único. Sempre houve monstros devastadores, assassinos, viciados e até mesmo monstros resignados, disfarçados de superiores. Há monstros dentro de todo mundo, e eles ferem uns aos outros o tempo todo. Vendo assim, não há monstro maior ou menor, são apenas monstros diferentes.
Agora ele se dá conta de que nunca, com palavras e mesmo com gestos, poderá realmente provar a todos o que está pensando, o que sente, e nem seu lado bom. Nunca vai poder mostrar que, apesar dos pelos e presas e garras, há um olhar inocente e um sorriso bondoso dentro dele. O importante é que o próprio monstro tenha consciência de que há uma coisa muito boa dentro de si e, apesar do que lhe cospem na cara, que dói como um ácido, embora ele tente fingir que não, essa coisa boa é muito mais forte e pode viver pra sempre, mesmo que apenas pelo conhecimento dele mesmo.
Lindo texto, e acho (quase uma certeza) até que conheço esse filhote...
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