terça-feira, 8 de setembro de 2015

Música Congelada

Foto: UltraDownloads / Edição: Quisque
Era a primeira vez que os dois tinham a honra de visitar o Museu da Música Congelada, onde os grandes astros descansavam para sempre depois de suas mortes precoces, geralmente causadas por drogas, pois não era fácil ser artista. Os dois apreciadores da boa música subiram os degraus, compraram seus tickets, atravessaram as portas, depois de serem revistados, e, enfim, vestiram seus trajes especiais para não serem congelados enquanto adentrassem no edifício.

A baixa temperatura do lugar invadiu os corpos protegidos dos amigos assim que entraram na área de exposição, onde havia uma fileira tenebrosa de grandes nomes da música mundial, cujos nomes foram gravados em dourado e adornavam suas discografias completas fincadas em pedestais de mármore. Fascinados, os dois trocaram olhares satisfeitos e ansiosos e começaram, então, a caminhar rumo a seus ídolos do passado.

O primeiro corpo criogenado era de Erl Optsukjuptz, o talentoso percursor do eletroestrondo. Os dois ficaram admirando o corpo sem vida do astro por alguns minutos, pegando os fones de ouvido pendurados ao lado do homem em exposição para ouvirem alguns de seus maiores sucessos. O astro ainda sorria e, apesar de gelado, sustentava uma pose triunfante que não tinha nada a ver com à que fora encontrado morto.

Depois de cultuarem devidamente o ídolo de gelo, os dois seguiram para a próxima personalidade. Utoplyanny Qwsaytu ainda usava seu decotado vestido de lantejoulas e seu penteado belo que fazia referência aos anos em que a lambidança fazia sucesso. Os amigos trocaram um olhar malicioso e relembraram a trajetória da diva, ouvindo seus hits nos fones de ouvido que a ladeavam. Ela ainda mantinha a pose sexy de sempre, mesmo congelada.

Os dois seguiram seu passeio passando pelos mais incríveis nomes que já haviam aparecido nas rádios e na TV. Guhjiji Sterbyuon, Werrf Warffs, Puikoljhg Quetsxyiu, Aqqy Pvbujlter, Unn Muaz, e até mesmo o célebre Ahrgf Xzcvbnm estavam lá, congelados, prontos para serem apreciados e ouvidos, ao lado de seus discos e instrumentos, também congelados. Os amigos faziam questão de parar e relembrar os maiores sucessos dos famosos com a ajuda dos fones de ouvido e comentavam o quanto a música era melhor no tempo em que todos aqueles ótimos cidadãos estavam vivos. Felizmente, ambos os vivos conseguiram comparecer em apresentações lotadas de alguns daqueles mortos, há alguns anos, e tido a honra de vê-los do tamanho de um palito de dente, num estádio lotado e em apresentações cheias de pirotecnia que exigiram acampamentos.

Depois de terminarem de prestar as devidas homenagens aos deuses do passado, os dois deixaram o museu, removendo os trajes especiais e entregando aos funcionários locais. Os apreciadores de música voltaram ao tempo presente e desceram as escadas do edifício com o objetivo de apanharem um táxi, mas foram abordados por um homem maltrapilho e ainda vivo, com um violão na mão, que perguntou: "Olá! Vocês, que parecem gostar de música, querem ouvir um pouco do meu trabalho?",

Os amigos acharam aquilo o maior absurdo e, atônitos, gritaram, chamando os guardas civis para protegê-los. E instantes, os fardados surgiram, bateram no arruaceiro com seus cassetetes e o jogaram dentro de uma viatura. Zé Ninguém era artista de rua, com letras consistentes e riqueza melódia em suas composições, porém, jamais seria conhecido.

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