Foto: Pixabay |
O dono ficou completamente transtornado. Como seria sua vida sem aquele brinquedo? Ele poderia estar em qualquer lugar, fazendo qualquer coisa, até mesmo bebendo ou matando alguém! A marionete, porém, vagou pelos caminhos complexos e incertos de enxurradas e gramados. Sentiu-se, pela primeira vez, vivo, e até mesmo a insegurança que estava impregnada em cada passo que dava ainda era melhor do que depender para sempre de um titereiro. O artesão que o confeccionou, porém, chorava todos os dias, não saía de casa, se entregara completamente à falta que sua criação fazia.
Um dia, a marionete voltou para casa, e já estava bem maior. Na verdade, já era um homem, deixara de ser de madeira e desenvolvera pele, pelos, órgãos, e agora tinha projetos. Ele não chegou com a ideia de voltar a seu querido mestre, apenas queria alguns equipamentos para poder pôr em prática um sonho que teve. Ele vasculhou por todo canto, mas não achou a madeira que queria, nem os pregos e muito menos a linha: a casa estava abandonada, tudo havia sido levado, e ele se perguntou o que é que teria acontecido ali e onde estava seu criador.
Ao chegar ao cômodo mais sujo e escuro da casa, ele encontrou uma marionete caída no chão. Ele a reconheceu imediatamente como seu antigo dono, que simplesmente não se mexia mais sozinho. O homem ficou muito feliz de encontrar aquela marionete, pois não precisaria mais trabalhar muito para ter seu próprio ser manipulável, ficaria com aquele ali mesmo. Infelizmente, os dois ficaram naquele jogo de ser ora marionete, ora titereiro por longos anos, pois a coisa mais difícil para eles era aceitar que, no fundo, nunca tiveram controle de nada na vida.
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