terça-feira, 22 de março de 2016

Amador

O grande carimbador deu um recado claro e preciso: Quem não tiver o meu carimbo oficial, não está apto a seja lá o que for. E, desde então, as pessoas começaram a se sentir cada vez mais incapazes de realizar grandes feitos, já que conseguir a permissão para isso seria demasiadamente trabalhoso e incerto. Resignaram-se, então, a parafusar e desparafusar as ideias dos pagantes, que não saíram do papel por eles. Eles apenas saíram depois de darem os papéis de valor a quem nunca conheceu uma vida diferente.

Feliz de verdade foi quem, mesmo sabendo que poderia nunca conseguir o tal carimbo, disse não aos parafusos e decidiu que não queria mesmo tê-los. Não há nada de errado em usar somente a mim como ferramenta de trabalho, sempre disseram esses resistentes, mesmo em meio a situações de sobrevivência muitas vezes precárias. Comparada à vivência e à liberdade que tinham, a falta de uma massa mais cara na mesa parecia ser muito translúcida.

Foto original: Dreamstime
Em suas obras, tentam chamar o mundo carimbado para olhar para o mundo amador, e ver como há valor ali, como há qualidade, como há sonhos, como há verdade. Muitos corrompidos pelo carimbo torcem o nariz, pois lhes foi ensinado que, sem carimbo, horário fixo, suprimento de vaidades, pano de fundo e local adequado para se trabalhar, não há como alguém ser de fato um trabalhador. Triste engano. Também há quem está carimbado, mas, por um breve momento, se permite sorrir e sonhar olhando os malucos alucinados e sem carimbo.

Os que tiveram a coragem, carimbaram-se como amadores, pois amavam as dores do que faziam, e as alegrias também, claro. Seriam, foram e serão, para sempre, amadores do que escolheram. Amadores daquilo que acharam para trazer sentido ao ar que respiram. Nem todos tem a sorte de que seu trabalho tenha começado como uma brincadeira um dia. E mesmo que um dia consigam o tão estimado carimbo, espero que não deixem de ser amadores nunca.

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