segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Quem Enxerga

Estava no metrô, com pressa, voltando cansado da faculdade. Foi a segunda vez dessa nova rotina que consegui lugar pra sentar, já que o metrô estava praticamente vazio. A mulher que estava sentada ao lado se levantou, cedendo lugar a um homem. Ela foi se sentar no banco à frente e fiquei curioso quanto a razão pela qual ela o ter deixado sentar justamente ali.

O homem não enxergava. Segurava em mãos a bengala apropriada, de deficiente visual. Confesso que tenho uma grande dificuldade para lidar com pessoas com necessidades específicas. Tento tratá-las normalmente, como deve ser, mas nunca sei se devo ajudar mais ou ajudar menos; talvez os incomode, talvez não. Ele me perguntou em que estação eu ia descer. Tirei o fone de ouvido de vez, percebendo que deveria dar mais atenção à ele e perceber se precisaria de ajuda ou simplesmente de palavras amigas mesmo. Respondi e ele quis saber mais do lugar onde eu morava.

Contei sobre minha casa, minha vida e ele também, sobre a dele. Contou que gostava de futebol, de fazer compras no mercado... de passear na praia. Essas atividades foram passando pela minha cabeça de um modo diferente. Nunca havia pensado em um modo de curtir momentos sem vê-los, ou seja, vivenciá-los pela metade. Ficamos conversando, nos apresentamos.

Quando eu disse 'foi um prazer conhecer o senhor' eu tentei passar todo o sentimento de solidariedade que às vezes esqueço e mantenho trancafiado em um baú. Talvez ele tenha percebido. De qualquer forma pode ser que conhecer alguém por sua voz revele mais sobre a pessoa do que olhando falsos sorrisos e encarando olhares enigmáticos. Quando a estação em que ele desceria chegou, o avisei, disse que tinha que sair pela esquerda, mas não o ajudei a sair, ele sabia muito bem fazer isso sozinho, então, eu percebi e respeitei isso.

Concluo afirmando que quem enxerga julga, quem enxerga menospreza, quem enxerga não dá bom dia para alguém que não conhece, quem enxerga não quer saber da vida de quem está a seu lado. Quem enxerga não enxerga o outro. Quem enxerga está cego!

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