segunda-feira, 14 de abril de 2014

O Dia Em Que Quase Morri

Eu estava saindo sei lá de onde, indo para sei lá onde. Tinha um local que eu sabia bem qual era, e ele me acompanhava, e escorria pelos cantos dos meus olhos. Ia andando meio sem querer, desconsolado, sem perspectiva para o futuro, com vontade de morrer. Não havia espaço suficiente em mim para tanta euforia, então eu tinha que andar cada vez mais, buscando mais espaço, em um chão que não era meu por direito legal, mas era legal conquistar aquele chão.
Mas aí, na avenida, tive um encontro breve, mas que pareceu acontecer em câmara lenta na hora, com ninguém menos do que a Morte. Essa dama vem de várias formas, todos sabem. Nesse dia, veio sob a forma de um veículo que corria em ziguezague pelas ruas, fazendo-me questionar sobre a função básica da calçada, já que sua regra de uso foi quebrada naquele instante.
Me esquivei, abracei a parede, minha amiga, e anotei mentalmente que tinha que parar de andar com tanta confiança pela calçada, julgando que nenhum filho da puta vai passar com suas rodas por cima dela e me matar. A morte, embriagada, bateu seu veículo cinzento de ré, num poste bem na minha frente, a poucos centímetros de mim. Hesitante, ela rumou, ainda em ziguezague, para o outro lado da rua, deixando deste alguém temporariamente traumatizado, sem acreditar no que acabara de acontecer.
Ela acabou batendo em um poste do outro lado da rua também e ficando presa entre as ferragens. Várias pessoas cercaram o local, inclusive os policiais; porém, a Morte sempre foi muito esperta e deixou no veículo apenas os dois corpos inconscientes de dois babacas que exageraram na balada que começou no dia anterior.
Segui meu caminho, olhei para trás rapidamente e pude ver a fumaça saindo. Depois de uma longa caminhada até o fim de toda a avenida, com o coração ainda acelerado depois de ter quase sido pego de jeito, comecei a voltar e cheguei no local do acidente. O carro fora rebocado, os jovens malucos presos e eu estava ali. Eu estava vivo e não era à toa. Talvez devesse agradecer e sorrir por poder voltar pra casa, dar um abraço e um beijo em quem amo e comer pizza, apesar de tudo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário