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Foto: Quisque |
Entre uma golada e outra de café, ele já está sofrendo de novo. Está se perguntando por que é que que não leu tudo o que tinha pra ler ainda e por que está tão difícil colocar aquele filme pra passar. Anda de um lado para o outro, pensando no que é mais lógico de fazer nessa situação. Não encontra resposta, e já passou meia hora. Está pensando em começar tudo do zero, organizar sua vida, jogar coisas fora. Mas isso o faria perder bastante tempo, poderia escrever um livro ao invés de ter tanto cansaço físico assim. Decide ir para a cozinha e tomar um pouco de sorvete, mas desiste, pois, se a coisa continuar assim, vai acabar virando um balofo náufrago do sofá. Isso o lembra de jogar videogame, algo que gostaria, mas que também não pode, pois vai lhe tomar tempo. Ele vai até o espelho e começa a inventar um novo personagem, para dias mais tristes. Não demora muito e se cansa disso, pois o fará perder tempo e não dará resultado algum. Vai daqui pra lá, come, dorme, trabalha, senta no sofá e no fim pensa: não produzi nada. Começa a doer a indecisão. Bebe mais café, mas as últimas goladas estão salgadas de tanta lágrima que caiu na xícara. Se fumasse, ao menos, teria mais prestígio ao segurar aquele tubinho mortal. Seria menos deprimente e mais fedido, mas, pelo menos, aparentaria autoconfiança. Vai até a janela e tira uma foto, mas ela não fica boa o suficiente e ele a deleta. O que fará os outros sorrirem, se impressionarem ou o admirarem? Ele precisa disso? Talvez não. Ou só sente que sim? Sem saber a quem agradar, vai deitar, culpado por não ter bolado nada útil durante todas aquelas semanas. Passam os anos, ele está com os mesmos dilemas, perguntando-se de quem é a culpa por sua vida nunca começar, ou, talvez, perguntando-se ele vai parar de se culpar e viver.
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