Entretanto, elas estavam de costas para uma avenida movimentada, por onde passava naquele instante uma legião de ciclistas. Provavelmente a caminho da Avenida Paulista, os ciclistas pararam, admirados com a beleza traseira das moças. Eles decidiram, então, cumprir seus papéis de homens.
-Nossa, nossa, hein!
-Princesas!
-Onde vai ser a festa hein?
-Delícia!
-Aí, sim, hein!
As meninas continuavam a dançar. Talvez nem ouvissem os comentários dos homens, que as viam por trás, desprotegidas. Elas seguiam com seus movimentos provocantes e determinados, cheios de disciplina, disposição e alegria. Os dois no canto viam tudo acontecer, horrorizados, comentando aquela situação bizarra em que as moças se encontravam e talvez nem se dessem consciência. Os homens de bicicleta, agora parados para contemplar um show que nem acontecia para eles faziam gestos e trocavam olhares grotescos, somados às palavras que haviam aprendido com seus pais ou na escola, quando precisaram muito provar sua masculinidade. Muitos deles já eram pais. Dois deles tinham filhas da mesma idade das beldades à frente.
Foto: Shutterstock/Quisque |
-Lindas!
-Saudáveis!
-Vou sentir saudade, hein!
-Vou até tirar uma foto!
De fato, houve uma foto. A foto levou um registro do corpo das jovens, mas não de suas almas. As meninas não perceberam nada, continuaram acompanhadas e, de certa forma, protegidas por seu empenho e pela música que as unia em um propósito comum, e as separava dos homens de bicicleta, que voltavam às ruas, rumo à avenida, depois de darem uma última olhada. Um dos homens de bicicleta pediu, em pensamento, desculpas às garotas e se sentiu culpado por estar ao lado de amigos como aqueles, embora não tivesse muita escolha para sobreviver na selva de pedra.
O exército bateu em retirada como vitoriosos, embora não fossem. As moças seguiram com duas danças que, mais tarde, levariam a um concurso que prometia um prêmio em barras de ouro às vencedoras. Os outros dois homens, no escuro, apreciaram o triunfo silencioso das garotas e trocaram um beijo discreto no escuro.
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