quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

Palhaço Invertido

Às vezes é ruim ser sério, vestir essa fantasia limitada e que não vê graça em nada. Demorei para perceber isso, mas a verdade é que a seriedade pode te matar se você não souber quando ela é necessária.

Encarar algumas coisas como importantes e outras como irrelevantes é uma tarefa complicada, ainda mais quando, sem notar, rotula-se tudo de maneira errada. Um disparador de precificação cego e sem referênicas. Desde quando a sensação de sucesso virou mais importante do que dar uma boa gargalhada? Os palhaços sabem bem das coisas. São médicos competentes.

Arte: Rafi Talby
Máquinas são operacionais, produzem, trazem resultados, não questionam, não se perdem, não erram. Assim que eu percebi que estava tentando ser uma máquina, tratei de tentar tirar o alumínio que se acumulou em mim, e sugiro que você faça isso também, caso esteja acontecendo. Tropeços falam mais sobre quem somos do que nossas exaustivas simulações de perfeição.

Agora parece que um mundo de toques, temperaturas e sensações se apresenta misticamente para mim, como um portal para um mundo antigo, já esquecido. O som das coisas me cativa. Coisas que eu colocara na prateleira "Inúteis". Sempre fui um péssimo rotulador, demorei pra perceber.

Barulho de água fervendo, criança rindo, porta abrindo, vento soprando as folhas. São sons que não mudam nada e, ao mesmo tempo, mudam tudo.Eu olho pro céu e tenho vontade de chorar. Olho para o chão e tenho vontade de dar risada. Olho para mim mesmo no espelho e me pergunto quando foi que ganhei um corpo. Não me lembrava dele antes.

Talvez a caça iluda o caçador, o faz pensar que não existe nada fora daquela atividade, mas há. E muitas cosias. Até um carrasco tem vontade de dar risada depois de lavar as mãos sujas de sangue. Um terrorista não fica o tempo todo pensando em explodir coisas. Tem vezes que ele só quer assistir um filme bobo e esquecer.

Hoje, até coisas que me incomodavam, como lavar a louça, podem trazer sensações interessantes. Tem coisa mais linda que fazer uma atividade repetitiva, instintiva, monótona, que pode te custar um corte ou um copo, e, ao terminar, voltar de uma viagem a parte mais subconsciente de si mesmo? Não.

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