segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Plástico-Bolha

Foto: Bianca Elias

Eu não quis enrolar,
Eu queria me enrolar,
Eu não sou de enrolar,
Mas eu vou me enrolar,
Está claro que vou me enrolar,
Só não queria te enrolar,

Quanto mais eu tento, fazer tudo certo, escalar o muro, todo de concreto, 
Eu vejo que sangro, pois eu me machuco, e não é de hoje, e não é de agora, sempre foi,
É de sempre, esse meu jeito, de me enrolar, com isso e aquilo, e não seguir em frente, 
Dei atenção demais a quem disse não, coloquei no repeat aquela voz que gritou,
Não quis saber do elogio, não quis ouvir aquele aplauso, ignorei o seu abraço, 

Fechei a cara pro elogio, 

Não confiei no meu texto, não confiei na minha voz, eu deixei que vissem o que vissem,
Eu calculei, eu acertei, mas eu falhei, não analisei, ou analisei e não falei, ou falei e não falhei, ou eu falhei e não falei, 
Sei lá, parece que tudo dá na mesma, ou a euforia louca de postar logo o texto, ou a tristeza de que ninguém quer ler, 
Ou lerá, ou verá, assistirá, não sei, 
Acho que eu mesmo não via, nem ouvia, nem me via, nem ou via, 

Via?

Me enrolei, 
Vou me enrolar,
Num plástico-bolha, 
Pra não me machucar, 
E escrever sem revisar, 
E sangrar sem estancar, 
E chorar sem enxugar, 
E assinar sem confirmar,
E trabalhar sem ganhar, 
E ganhar sem apostar, 
E levar sem animar, 
Animal ou homem?

Preferia isso, 
Agora estou com aquilo, 
E me perguntam porque, 
E eu só digo, eu amo, 
E eu amo ela, e eu amo ele, 
E cada dia eu amo mais, ser humano, 
Humano, 

Não sabia que podia amar, e me amar, e me animar,

Pingou café, 
Pingou Coca,
Pingou Pepsi, fazer o quê,
Pingou chá, 
Pingou chuva também, por que não?

Agradei vocês tempo demais, 
E mesmo assim voltei atrás,
Pois ganhei o quê?

Tentaram me convencer que meu esforço não existe, 
Que meu trabalho não existe, 
Que minha cidade não sangra, 
Que não há desigualdade,
E faço o que nessa cidade?
Que apaga meu desenho?
Que diz que comida não é pra todo mundo?
Que diz que isso não é arte?
Que diz que isso é infantil?
Que diz pra ir pra puta que pariu,
Quem trombou sem querer, 
E não pediu desculpa, 
Pois tava de fone.


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