terça-feira, 14 de março de 2017

Se as Fadas Falassem

Foto: O Livro das Fadas Prensadas
Como é que as pessoas podem ser educadas para viver juntas e serem felizes e simplesmente não conseguirem quando chega a hora?

O amor é estranho. Você pode fazer de tudo, dar o seu melhor, seu sangue, dedicar horas e horas do dia para alguém ou para um grupo de pessoas em especial. E parece que, de repente, tudo o que você fez é apagado. Tudo some, evapora, esfarela, vira pó.

O pó mineral presente nas fadas permite que as pessoas voem. E elas nos usam para voar, para sair daquela realidade, para esquecer que estão infelizes, que tem vidas tristes e solitárias, e que, por mais que frequentem um corpo ou outro de vez em quando, por mais que troquem palavras bonitas, não sabem o que é o amor. Muitas vezes descobriram o que era com a mãe. Mas às vezes a mãe foi a primeira e a última pessoa que lhes mostrou o amor. Talvez alguns o neguem justamente porque não o compreendem. E outros o compreendem, mas não sabem articulá-lo.

Eu sou uma fada. Eu amo. Quando amo, amo de verdade, amo por inteira. Mas, como fada, sou limitada. Só tenho espaço para um sentimento de cada vez. Ou estou amando, ou estou odiando. Ou estou triste, ou estou feliz. Sou sensível a tudo e todos. Talvez seja isso que garanta que o pó das fadas faça tão bem para as pessoas. Talvez seja porque nós as libertamos de suas amarras, de seus orgulhos, de seus negativismos. Damos asas a todos, mostramos como é bom se entregar.

Fadas não falam. Vocês não nos escutam. Mas se eu pudesse falar, eu diria algo que me incomoda muito. O contraditório em nossa existência é que nós, fadas, nos entregamos tanto que, quando percebemos, não conseguimos mais nos pegar de volta. Fazem o que querem conosco. E depois que o efeito de nossa mágica passa e todos são obrigados a crescer e ir para seus escritórios, casas e famílias, dizem com todas as palavras que não acreditam em nós. Que não existimos.

Sempre deixamos de ser importantes. Sempre somos banidas.

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